Seu Nico, o morador mais antigo da Fazenda da Toca
Um tempo de boa prosa, sem celular, nada de pressa, no banco da praça, ouvido atento e muitas risadas. Senta que lá vem história! É assim que são as conversas com seu Nico, o morador mais antigo da Fazenda da Toca. Em uma época saturada de redes sociais, tela de smartphone e mensagem de Whatsapp a cada segundo, estar na presença dele é o oposto disso. Você se sente em uma conversa de compadres de antigamente.
Em 7 de setembro, completam 52 anos que seu Nico mora aqui na mesma casa amarela com portas e janelas pintadas de vermelho, tão típicas do interior. Ele chegou com 25 anos para trabalhar com gado de leite, que era a atividade principal da Fazenda antigamente. Fazia a lida do gado e andava a cavalo, o meio de transporte naquela altura. Aqui começou a trabalhar e aqui se aposentou.
Dessas pessoas que não gostam de ficar paradas, seu Nico produz café e mel orgânico em seu quintal. Quando vamos comprar os produtos dele, nunca é só chegar e sair. Ele sempre gosta de puxar conversa e provocar risos. É uma figura lendária e querida por todos na Fazenda da Toca.
Lembrando dos tempos em que mexia com gado, passou por poucas e boas, conta. “Um dia garoava fino e eu estava no cavalo. Quando vi tinha um cachorro grande e cinza, pesava uns 100 kg e veio correndo atrás. O cavalo ficou bravo, virei em direção ao cachorro, ele era muito grande e veio perseguindo, e o cavalo cada vez mais bravo e assustado. Meu cabelo se arrepiou todo. Aí, do nada, o cachorro sumiu, nunca mais vi.”
Assombrações de Fazenda
Toda fazenda que se preze tem história de assombração, dessas contadas pelos mais antigos e que deixam as crianças fascinadas e petrificadas escutando ao pé das figueiras em noite de lua cheia. Essa cena já é clássica aqui, mas agora não tem mais assombração nova, lamenta seu Nico. Elas têm prazo de validade.
Ele diz que “todo mundo que morre antes de vencer seu tempo na terra fica aparecendo pros outros”. E bem antigamente isso acontecia amiúde porque lá “naquele alto passava uma estrada de boiadeiro”, aponta. Eram os tropeiros tocando os animais. E quando havia uma rixa naquelas épocas de tocaia e sem lei dos tempos dantanhos, não precisava muito motivo para um matar o outro nas escaramuças.
Uma vez, por trás da capela que tem na colônia de moradores, apareceu um homem desconhecido de cabeça baixa, andando por lá bem em cima de um piso onde tinham acabado de jogar uma camada de cal. Ou seja, qualquer passarinho que pisasse lá ia deixar rastro.
Chamaram o homem, ele não respondeu e desapareceu no iluminado quando acenderam os interruptores. Foram ver de perto e não tinha rastro no cal. “Era assombração”, sentencia Nico. Talvez um daqueles boiadeiros caídos em desgraça nas brigas de faca de outrora.
Mas o pior foi o que aconteceu com um cachorro que tinha na Fazenda. Um cão branco e destemido que enfrentava qualquer bicho. Seu Nico estava cortando vara de eucalipto quando ouviu um barulho estranho saindo do meio do mato. O cachorro logo se alvoroçou e correu para lá arreganhando os dentes. Todo mundo parou para ver. Se fosse um bicho qualquer, não ia sobrar nada do coitado. Mas, de repente, o cão bravo deu um gemido fino e voltou com o rabo entre as pernas e com a moral perdida. “Era assombração”, sentencia Nico.
Personagens e histórias assim enriquecem a cultura e o folclore da Fazenda da Toca e tornam esse lugar ainda mais fascinante.
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